quinta-feira, 14 de abril de 2016

na ponte da perversão
pálpebras de peixes coagulam
contra a obliquidade das algas
que escorregam da dureza
dos teus lábios
que em vão salpico
... de carícias
é pelo silêncio que vou
buscando a lucidez no desequilíbrio
vocalizando a música áspera
das abelhas em agonia
- cânticos profanos de resistência

é no silêncio  que me reencontro
sublimando palavras suspensas,

amarrotadas na acidez grave
da ausência

quinta-feira, 31 de março de 2016

esventrado o corpo da vírgula
expõe a insanidade da espera:
- estilhaços de pensamentos
infinitamente ressurgem
atormentando a mente,
enlouquecendo-a

reencontro- me com os ossos
das palavras essenciais
- restos de mim

memórias deglutidas
com disfagia

quarta-feira, 23 de março de 2016

21 de março

as pedras balbuciam palavras de ausência
em ebulição e revolta
no fundo de uma taça revejo o Universo
- fissuras convergem irremediavelmente num grito
que se dissipa no absurdo
da morte

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

apaixonas-te em vão
aflorando apenas o vértice
incompleto do amor

poderíamos ter sido
o celofane, o mel e o cetim
inigualáveis na
lucidez icónica
da paixão

vejo-te entre mim e o mar
a ensaiar a espuma nocturna
da despedida

entre areias e conchas submersas
naufragam ósculos a motor
- à deriva

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

seres fúnebres desafiam
a luminosidade fluida
do entardecer no final
de um setembro qualquer

rumores de asas debruçam-se
coreograficamente para o sul
enquanto deglutes o veneno arbóreo
num bule tóxico de porcelana
- um chá inquinado
pontualmente servido às cinco

-materialização da morte
com requinte homeopático

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

pálpebras de peixes disléxicos coagulam
em ventres feridos
de seres subaquáticos

o plasma, o soro, o sangue
envenenam o leito fossilizado
de conchas onde tu te habituaste a adormecer

algas escorrem lentamente
das gargantas de um passado distante
- um vómito que desafia o paladar doce
da tua boca húmida de sangue

é assim que pressinto os gritos dos corais:
sublimando golpes profundos
de uma ausência em cicatrização

mais te informo:
aquela adaga pertence-me.
o bisturi, reserveio-o para ti
- bem afiado