coadas,
as sílabas mais agudas
verticalizam as palavras
mais suspensas,
amarrotadas na acidez grave
do silêncio
ainda assim hesito.
hesito em gritar por ti
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
quarta-feira, 25 de junho de 2008
limite
até que enfim
chegaste
trouxeste a tua carne
colada à minha sombra
esvaída do meio-dia
ontém vivi-te
demorei-me no canto
das lágrimas
no leito das penas
de malentendidos
querias a verdade
querias certezas
a eternidade imediata
das palavras
- esse futuro tão exacto
na sombra do meio-dia
chegaste
trouxeste a tua carne
colada à minha sombra
esvaída do meio-dia
ontém vivi-te
demorei-me no canto
das lágrimas
no leito das penas
de malentendidos
querias a verdade
querias certezas
a eternidade imediata
das palavras
- esse futuro tão exacto
na sombra do meio-dia
sexta-feira, 21 de março de 2008
seguro na queda
medo
é a cadência sanguinária
do gotejo arterial
na bainha metálica do tendão
rasgado
a malha óssea
que germina
na dor do teu corpo
na latência do pedal
que crava a tua carne
ainda fria
medo
é o silêncio cicatrizado
a nu
um encaixe
imperfeito
e todavia
subsiste
mudo
- seguro na queda
é a cadência sanguinária
do gotejo arterial
na bainha metálica do tendão
rasgado
a malha óssea
que germina
na dor do teu corpo
na latência do pedal
que crava a tua carne
ainda fria
medo
é o silêncio cicatrizado
a nu
um encaixe
imperfeito
e todavia
subsiste
mudo
- seguro na queda
quinta-feira, 20 de março de 2008
talvez
apenas sei que é
pelo repouso que espero
pelo envelhecer da tua sombra
na minha
ainda incompleta
pelos dedos prolongados
no sonho
espreguiçados nos meus
talvez entrelaçados
numa manhã sem hora
pelo repouso que espero
pelo envelhecer da tua sombra
na minha
ainda incompleta
pelos dedos prolongados
no sonho
espreguiçados nos meus
talvez entrelaçados
numa manhã sem hora
quarta-feira, 19 de março de 2008
sigo-te
reconheces as minhas mãos
no reflexo, no tacto,
e no entanto é pela margem
que trilhas o caminho
quando é na água que te sigo
no mergulho atormentado dos pássaros
no grito vulcânico das pedras
nas línguas espalmadas dos sapos
no assobio desvairado das canas
no verde esquivo dos pés subaquáticos
pela água sigo a margem
sigo-te à margem
até ao mar
no reflexo, no tacto,
e no entanto é pela margem
que trilhas o caminho
quando é na água que te sigo
no mergulho atormentado dos pássaros
no grito vulcânico das pedras
nas línguas espalmadas dos sapos
no assobio desvairado das canas
no verde esquivo dos pés subaquáticos
pela água sigo a margem
sigo-te à margem
até ao mar
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
magnum
é no horizonte que procuro
a febre sintonizada
nos graus alinhados da assepsia
da antecâmara do Éden
anuncio a insanidade
da pólvora
o pó que à míngua hostilizou
os estilhaços dissecados
na cicatriz da culatra
é no horizonte que a precisão
da mira se submete
à detonação das sinapses
no ardor do gatilho
em uníssono, as feridas
vocalizam o timbre da explosão
- a fragrância, o fumo, a luxúria
o projéctil disparado
na hesitação do arco órfão
do meu peito
a febre sintonizada
nos graus alinhados da assepsia
da antecâmara do Éden
anuncio a insanidade
da pólvora
o pó que à míngua hostilizou
os estilhaços dissecados
na cicatriz da culatra
é no horizonte que a precisão
da mira se submete
à detonação das sinapses
no ardor do gatilho
em uníssono, as feridas
vocalizam o timbre da explosão
- a fragrância, o fumo, a luxúria
o projéctil disparado
na hesitação do arco órfão
do meu peito
domingo, 20 de janeiro de 2008
o jogo do medo
hoje sigo
a fragilidade hirta
das raízes
o verde hipnótico
a tensão imóvel do silêncio
o regresso foi adiado
num passo atáxico,
sincopado
espera elíptica
em cada lâmina
de água turva
- quase lama
de onde tento erguer-me
sem lágrimas
aceito o desafio
das incertezas
- véu cíclico de sombras
e o medo para quando?
a fragilidade hirta
das raízes
o verde hipnótico
a tensão imóvel do silêncio
o regresso foi adiado
num passo atáxico,
sincopado
espera elíptica
em cada lâmina
de água turva
- quase lama
de onde tento erguer-me
sem lágrimas
aceito o desafio
das incertezas
- véu cíclico de sombras
e o medo para quando?
mute
foi-me negado
o improviso dos sons
a vibração dos sentidos
num arco de pele
desafinada
não toco
escuto apenas
o ruído tenso das mãos
que se afastam
- uma música suspensa
num compasso de língua
húmida
o improviso dos sons
a vibração dos sentidos
num arco de pele
desafinada
não toco
escuto apenas
o ruído tenso das mãos
que se afastam
- uma música suspensa
num compasso de língua
húmida
sábado, 19 de janeiro de 2008
à la carte
resta-me apenas
um prato incógnito e raso
no futuro
servirei as lágrimas
demolhadas de véspera
-sem sal, sem agonia
mal passado,
o mistério
- em sangue
do dia
um prato incógnito e raso
no futuro
servirei as lágrimas
demolhadas de véspera
-sem sal, sem agonia
mal passado,
o mistério
- em sangue
do dia
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
a maçã
lábios descaroçados
colheram suspiros
um a um
na horta do paraíso
enraizaram silêncios
na pele respigada,
estéril
- enxertia de serpente
fosse eu maçã
desfolharia ósculos
num pecado líquido de cerejas
... sem casca
colheram suspiros
um a um
na horta do paraíso
enraizaram silêncios
na pele respigada,
estéril
- enxertia de serpente
fosse eu maçã
desfolharia ósculos
num pecado líquido de cerejas
... sem casca
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
sereia
corpo subtraído
ao sangue
na areia ensalivada
mar esbugalhado
contra a sensualidade
das escamas
promoção de espinhas ancestrais
lirismo de peixe...
- quase sóbrio
ao sangue
na areia ensalivada
mar esbugalhado
contra a sensualidade
das escamas
promoção de espinhas ancestrais
lirismo de peixe...
- quase sóbrio
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
outro caminho
poderia o vermelho
ainda ser lama
se a água não despisse
o leito insalubre do desejo?
poderia a lama
ainda ser corpo
se o sangue não escorresse
das lâminas que esventraram as súplicas
dos teus náufragos?
poderia este corpo ser caminho,
o branco alma
se não fosse esta a pele onde me encerro,
onde pernoito sem hora,
onde expurgo a seiva dos dias desconhecidos?
poderei ainda ser vida
breve,
quando escolher partir
noutro caminho?
ainda ser lama
se a água não despisse
o leito insalubre do desejo?
poderia a lama
ainda ser corpo
se o sangue não escorresse
das lâminas que esventraram as súplicas
dos teus náufragos?
poderia este corpo ser caminho,
o branco alma
se não fosse esta a pele onde me encerro,
onde pernoito sem hora,
onde expurgo a seiva dos dias desconhecidos?
poderei ainda ser vida
breve,
quando escolher partir
noutro caminho?
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
mais alto!
gritaria eu mais alto
não fossem tão estreitas
as vozes desta rua
não fossem as tuas mãos
de adeus
ecoarem de cada esquina
em silêncio
não fosse esta a música
a ressoar nas cordas
que desafi(n)o
em violência
não fosse este o beco
onde me sento e calo
onde respiro e choro
onde me acalmo
... e vou morrendo
não fossem tão estreitas
as vozes desta rua
não fossem as tuas mãos
de adeus
ecoarem de cada esquina
em silêncio
não fosse esta a música
a ressoar nas cordas
que desafi(n)o
em violência
não fosse este o beco
onde me sento e calo
onde respiro e choro
onde me acalmo
... e vou morrendo
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